De que vale esperar sem fim pelo fim
De que nos vale o amor quando é distância,
duas margens separadas pelo leito da morte
onde correm palavras mudas, gestos sem tacto,
a memória de um cheiro a desvanecer,
de que vale o vazio aberto entre duas sombras,
alçapão sem fundo albergando dolorosa nostalgia,
a tristeza adocicada dos melancólicos
que lambem feridas com retratos,
de que vale esperar sem fim pelo fim,
o horizonte utópico de um segredo mal contado,
uivo perdido na atmosfera, som sem rosto?
De que nos vale a memória de um amor
quando a ausência ascende a substância,
tudo o que sobrava se desmaterializa e transforma
em nada, apenas vazio, termo, ocorrência, desfecho.