Lisboa

É ridículo supor que Lisboa é mais provinciana que o resto do país: em matéria de provincianismo, e atraso de vida, é a cara chapada. Eça, que morava longe, fartou-se de o notar. O engraçado (“engraçado” não é a palavra exacta) é que, 130 anos depois, a lendária “identidade” não mudou. Nas últimas décadas, entraram por aí “fundos”, tecnologia, carros, turistas, “start-ups”, o que calhou. Os portugueses aproveitaram tudo, misturaram tudo, consumiram tudo e, na essência, permaneceram isolados como antes. E pasmados como nunca.
Em suma, a nossa existência carece da legitimação de terceiros. Uma “vedeta” facilita. Se não se arranja a “vedeta”, qualquer estrangeiro anónimo serve: não deve haver lugar na Terra onde os visitantes são interrogados com tanta frequência – e ansiedade – acerca da opinião que têm de Portugal. Dado que os visitantes são geralmente simpáticos e a opinião é geralmente positiva, os repórteres que os massacram podem espalhar a aprovação com patriótico furor. E, após escutar atentamente os louvores do sr. Hans Meier, contabilista de Zurique, sobre o bacalhau e o sol, os portugueses podem concluir que são os maiores. E adormecer em paz, cheiinhos de medo de não serem nada.
Alberto Gonçalves in Observador

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